Quando se menciona vício, a palavra é rapidamente associada à bebida e drogas para a maioria das pessoas. Porém, a falta de controle em executar qualquer atividade pode receber essa qualificação. Nas apostas esportivas, o caminho para a dependência psíquica é relativamente simples, mas pouco reconhecido não apenas pelos que se viciam, mas também entre os profissionais de saúde mental.

Ao contrário do que acontece com drogas e bebidas, em que é possível encontrar grupos de apoio e entidades, inclusive governamentais, voltadas para o combate ao vício, quando se fala de apostas, não há uma rede de auxílio bem estruturada. Eventualmente podem ser encontrados pequenos grupos chamados de “apostadores anônimos” que ajudam a combater o vício em apostas, mas não há uma política de saúde definida claramente para combater essa doença.

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Amigos e familiares são os primeiros a detectar o problema

Como acontece com a grande maioria dos problemas, sejam eles de saúde ou não, o círculo mais próximo da pessoa atingida é o primeiro a ser afetado pelo vício em jogos de aposta. Por isso, amigos e familiares costumam ser os primeiros a perceber que há alguma coisa errada. Muitas vezes até mesmo antes do jogador.

Podem até não conseguir fazer um diagnóstico correto, mas percebem mudanças de comportamento que indicam que aquilo de deveria ser uma diversão ou forma de complementar a renda ultrapassou os limites.

No primeiro caso, a percepção é um pouco mais fácil. No segundo, quando apostar virou, a princípio, um trabalho, já é mais difícil. Afinal, é preciso dedicar mais horas para sua fonte de renda. Isso acontece nos mais diferentes tipos de serviço. Para qualificar esse relacionamento, foi criado o termo inglês workaholic, que muitas vezes é visto como positivo, pois indica que a pessoa tem disposição para batalhar por seus ganhos. Assim, muitas vezes é difícil indicar que há um vício em apostas. Contudo, a falta de equilíbrio cria problemas na convivência com amigos e parentes capazes de mostrar claramente que existe uma patologia.

Perguntas simples podem ajudar a identificar o problema

Para fazer um diagnóstico preliminar, os amigos e parentes podem recorrer a um questionário capaz de revelar se o que era diversão se tornou vício em jogos de apostas. Até mesmo o próprio jogador pode ser chamado a responder as perguntas uma vez que para contornar essa situação, assim como acontece com drogas ou bebidas, seu esforço será fundamental.

Veja se:

1) O tempo dedicado às apostas provocou ausências significativas em compromissos pessoais importantes como festas de aniversário de filhos, consultas médicas, ausência no trabalho ou na escola. Nesse item deve ser incluído não apenas os momentos passados na frente de um computador verificando as cotações e dando palpites, mas também o acompanhamento intensivo de eventos esportivos, leitura de estatísticas etc. É um sinal de que o hobby virou obsessão.

2) O hábito já provocou discussão com familiares e amigos?

3) Os resultados da atividade resultaram em descontrole emocional? Explosões de raiva, xingamentos, quebra de objetos?

4) Foi investido dinheiro que não poderia ser perdido? Para pagamento de contas, aluguel ou atividades essenciais para a família?

5) Depois de uma perda, o apostador se concentra ainda mais na atividade buscando recuperar o dinheiro?

6) Depois de um palpite acertado, a reação é buscar faturar ainda mais com novas apostas?

7) As apostas são feitas até a conta ficar zerada?

8) Empréstimos foram tomados para o investimento em apostas?

9) Bens foram vendidos para essa finalidade?

10) Períodos estabelecidos para apostas são ultrapassados com frequência?

11) As apostas são feitas como forma de distrair a mente de frustrações com outros eventos?

12) O apostador já cometeu ou disse considerar realizar algo ilegal para ganhar dinheiro no mercado ou para investir na atividade?

13) Noites de sono são perdidas com a atividade?

Basta um sim para ligar o sinal de alerta

Basta uma resposta sim a qualquer uma das perguntas para que o sinal de alerta seja ligado para um possível vício em jogos de apostas. Se as respostas positivas forem numerosas, talvez tenha chegado a hora de uma atitude mais forte e com ajuda de profissionais especializados como psicólogos e psiquiatras.

Embora o preconceito por vezes atrapalhe a análise, o fato é que o vício no jogo é uma doença como a dependência química. Assim, o primeiro passo para solução é fazer com que o apostador reconheça sua condição e aceite a ajuda de terceiros. Tratar dessa questão como se fosse falta de vergonha ou vontade só fará com que o viciado entre em conflito com quem está falando e será pouco produtivo.

Embora existam registros históricos a respeito do jogo patológico desde o século 19, somente no século 20 começaram a ser formados grupos de jogadores anônimos, o que gerou estudos mais aprofundados a respeito e tratamentos específicos para esse vício, o que pode incluir até mesmo o uso de medicamentos para ajudar a combater a dependência psíquica.

Porém, em todos esses casos, a participação da família e do círculo mais próximo de convivência do apostador é essencial para combater o vício nas apostas. Eventualmente, até mesmo a tecnologia pode ser uma aliada. Há ferramentas como o programas que bloqueiam o acesso a sites de jogos online.

As próprias casas de apostas oferecem ferramentas de autoexclusão para os clientes. Nesse caso, é preciso entrar em contato com o site de jogos e solicitar que o acesso seja bloqueado por período determinado ou mesmo que a conta seja suspensa em definitivo.

Embora sejam as ferramentas mais extremas para o combate ao vício de apostas, há outras intermediárias como a determinação de um período máximo do uso do site com o surgimento na tela de uma mensagem indicando que o tempo foi alcançado ou de limitação de valores a serem depositados.